Blog do Thiago com Textos disso e daquilo. Comentários seus já são mais que bem vindos

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Eu sabia que ia dar algo errado. Tinha certeza disso. Na verdade, nem sei porque fiz tudo aquilo. Agora não tinha mais volta. Só sabia que a partir daquele dia, as coisas iam ficar confusas ou difíceis por um tempo. Acho que todos que vem para a Terra, cumprem sua missão de uma maneira ou outra, mas, por outro lado, pagam um preço, e eu pareço sempre estar pagando inutilmente.. Talvez eu tenha me aberto demais à isso, ou me entreguei por completo e não devia.
Peguei um cigarro e sentei no sofá, enquanto olhava aquela bagunça imensa e pensava o trabalho que eu teria para limpar tudo aquilo, definitivamente dessa vez eu me sentia diferente, sem aquela alegria por fazer aquilo. Acendi o cigarro e falei baixinho entre uma tragada e outra: - Olha essa droga, devia ter feito isso na rua, vou morrer limpando isso. Eram 21:52, e eu estava ficando com fome. Abri a geladeira e peguei um Donnut congelado, recheado com chocolate. Droga de Donnut, estava horrível. Dei a primeira mordida naquela porcaria e o telefone tocou. Era uma mulher, com uma voz até que suave, não parecia muito velha:
- Alô.
- Boa noite, vi no jornal que você concerta coisas.
- É, basicamente.
- Pode dar um jeito no meu fogão?
- O que tem ele?
- O gás não sai
- Já verificou o Butijão?
- Sim, está cheio.
- Ok, dou uma passada aí amanhã. Qual o seu endereço?
- É na St. Johnson esquina com a 45.
- Certo, acertamos o preço amanhã.
- Ok, tchau.
"Ótimo, mais trabalho. Espero que essa cadela me dê uma gorjeta legal" pensei. Servi um copo de suco e comi o Donnut. Sempre que levava o copo à boca podia sentir aquele cheiro bom na mão, aquele cheiro que fica depois que faço aquilo que fiz naquela noite. Mas dessa vez parecia terrível. Fedia a bosta. Precisava de um banho com urgência. Fui pegar a toalha na varanda quando o telefone tocou denovo. Era o Jack.
- Alô.
- Hey, Paul.
- E aí Jack.
- Sabe cara, eu to precisando ficar doidão. Terminei com uma guria e tô sem grana. Tem algo aí?
- Não. Estou duro, até queria tomar uma cerveja, mas nem pra isso eu tenho.
- Ah, certo, tchau
- Tchau.
Na verdade eu tinha dinheiro. Mas não quis dar. O Jack vai acabar me sugando desse jeito... aquele viciado. Acho que sou a única pessoa que conheço que é normal. Os outros são drogados ou tarados. Acho que deveriam ir para uma clínica, buscar ajuda talvez. Pode fazer bem à eles. Eu poderia me virar sem amigos, arranjo outros, consigo umas mulheres... Eu dou um jeito. Comecei a me sentir uma pessoa melhor. Sempre me sentia assim quando Jack me ligava pedindo dinheiro ou maconha. Esses anormais nos fazem tão bem, por nos fazerem esquecer os nossos defeitos, e achar que os deles são tão piores do que os nossos. No meio de todo aquele meu sentimento de superioridade, o telefone tocou novamente. Era a mulher do gás. Dessa vez falava mais suavemente, com uma calma quase que excitante.
- Alô.
- Olá, sou eu denovo.
- Ah, oi.
- Achei sua voz excitante e resolvi te ligar.
- Ah, interessante.
- Não quer dar um jeito nesse gás agora mesmo?
- Não tenho condução.
- Eu te busco, onde você mora?
- Evergreen, 45.
- Ok, se arrume.
- Certo, tchau.
"Talvez com sexo eu melhore" pensei. Cheirei meu sovaco, estava com uma asa danada, e estava com a mesma cueca fazia dois dias. Ela não ia querer colocar aquilo na boca do jeito que estava. Tomei um banho rápido e me meti em uma roupa mais bonita do que a que estava, nada especial, não ia precisar delas mesmo. Peguei meu maço de cigarros, só tinham 2 no maço. Peguei uma latinha de cerveja da geladeira e desci as escadas. Passou-se um tempo, e logo depois que terminei a latinha, chegou um carro verde na minha frente, e uma ruiva gorda saiu para fora, dizendo:
- Você que concerta coisas?
- Eu mesmo.
- Entre.
Ela estava bem maquiada, com uma saia muito curta, tão curta que parecia ser um tipo de provocação e com um decote. Os peitos dela balançavam quando passávamos por paralelepípedos. Fomos em silêncio até um certo ponto. Estava pensando para quantos caras ela já tinha ligado naquele dia e se podia dar conta dela. É incrível como as coisas mais carnais como o sexo podem fazer você se esquecer de que a vida é uma droga, e que tudo está terrível. Queria poder transar todas as noites. Fumei um cigarro e puxei um assunto com ela:
- Então, o que você faz?
- Sou corretora de imóveis, e você?
- Legal. Sou escritor.
- Escreve o que?
- Poesias.
- Já foi publicado muitas vezes?
- Qualquer idiota é publicado. Mas poucos têm colhões para serem lidos.
- Interessante. Pode recitar uma poesia para mim?
- Eu vivo disso. Estou de saco cheio disso. Só quero transar.
- Está bem, está bem. Você está faminto
Então ela deu uma risadinha, uma das mais escrotas que já ouvi na minha vida. Se não estivesse tão mal, até desistiria de ter alguma coisa. Abstraí a risadinha e passei a mão na perna dela. Notei que ela começou a se contorcer e dar uns sorrisinhos. Comecei a acreditar que poderia dar conta sem problemas. A vida estava ficando tão boa de repente. Estava quase me esquecendo daquele fedor culposo na minha sala. Paramos numa rua deserta, na frente de uma casa abandonada. E fizemos o que tinhamos para fazer ali no carro mesmo. Ela gritava alto demais, tinha medo de que a vizinhança acordasse. De qualquer maneira, dei conta do recado bem facilmente. Então, quando terminamos, acendi o último cigarro e me recostei me sentindo um daqueles atores pornô. Ela demorou para se arrumar, teve que recolocar maquiagem. Achei que ela tinha marido, e não queria chegar em casa daquela maneira para ele não desconfiasse. Fomos até minha casa em silêncio. Eram 03:06. Saí do carro e ela disse:
- Amanhã, mesmo horário, na minha casa.
- Certo.
Entrei no apartamento, e de repente, todo aquele meu sentimento de felicidade, de esquecimento de problemas passou. As janelas estavam intactas, isto era bom. Pelo menos daquela vez Jack não arrombou alguma janela e roubou algo para se drogar. Fitei o cadáver dela na minha sala, e sujei meu sapato quando pisei num pedaço de tripa que saía do estômago e ficava no chão. Entretanto, ela aparentava estar "bonita" ainda, linda, na verdade. Linda da maneira que sempre esteve enquanto nos divertimos todo aquele tempo. Linda como quando meti a faca na goela dela. Estava podre de cansado, me joguei na cama e comecei a pensar. Talvez eu amasse ela mesmo, talvez não devesse ter matado ela. Sei lá, está feito. Acho que não sou tão superior ou glorioso assim...

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